QUO VADIS, DOMINE? 

O FBI recuperou 11 documentos confidenciais  nas buscas que realizou na passada segunda-feira, dia 8 de agosto, à residência do antigo presidente norte-americano, Donald Trump, situada em Mar-a-Lago,  na Florida. De acordo com o “The Wall Street Journal”, alguns destes documentos estavam classificados como "ultrassecretos” e o seu conteúdo é tão sensível para a segurança nacional norte-americana que só podem ser consultados em instalações federais especiais. 

Também de acordo com o jornal “The Guardian”, que teve acesso ao mandado de judicial cumprido pelo FBI nas buscas relaizadas à casa do anterior ocupante da Casa Branca, o presidente Trump está sob investigação por eventuais violações da Lei de Espionagem. Além destas violações da Lei de Espionagem, o Presidente Trump também está a ser investigado por alegada obstrução da justiça e por alegadamente ter destruido documentação do Governo federal, afirma este jornal. 

Na listagem entretanto divulgada pelo próprio FBI do material apreendido, surgem documentos, objectos, fotografias, uma nota manuscrita e a concessão de clemência do presidente Donald Trump a Roger Stone, quatro conjuntos de documentos “ultrassecretos”, três conjuntos de material “secreto” e três considerados “confidenciais” — mas cujo conteúdo não deverá ser revelado, diz o “The New York Times”.  

A sua equipa de advogados afirma que o presidente Trump retirou a natureza secreta dos documentos antes de os trazer consigo, quando ainda estava em funções, mas o FBI sugere que o procedimento para o fazer tal desclassificação não foi cumprido com todos os procedimentos legais. 

De notar que estas buscas a casa de um presidente (título meramente protocolar) norte-americano, que já não se encontra em funções, é totalmente inédito. Como também foi inédito um presidente impugnar os resultados da sua não reeleição ou a vergonha internacional de ter um presidente (esse ainda em funções) a instigar a populaça a invadir o Capitólio... in the land of the free!?

Donald Trump faz parte daquele grupo de políticos que, por ter ainda legiões de apoiantes fanáticos, acha que as leis do seu país não se lhe aplicam. Mas, há mais no mundo. Não se pense que os Estados Unidos da América é caso único... longe disso! 

Só no Brasil, conheço dois casos, que em campos políticos diametralmente opostos, tem mais em comum do que aparentemente poderá parecer à primeira vista. Neste momento lideram, os dois, as sondagens no que toca às intenções de voto para as próximas eleições presidências, agendadas para o próximo dia 2 de Outubro.  

Talvez por isso é que neste momento as intenções de votar nulo sobem exponencialmente... esta tendência explica muita coisa! Senão vejamos; 

No dia 4 de Março 2016, estava eu, por mera coincidência (ainda que feliz) no Brasil, logo constatei em “loco”, naquela manhã, a Polícia Federal Brasileira realizou buscas na casa do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito duma investigação por fraude na Petrobras. 

Entre vários objectos que o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia mandado empacotar e levado consigo quando saiu do Palácio da Alvorada, em 2010, constava  um faqueiro de ouro que a Rainha da Inglaterra, Isabel II, ofereceu ao Estado Brasileiro, em 1968, a quando de uma visita de Estado, era então Presidente do Brasil Artur Costa e Silva, donde era património do Estado brasileiro e não seu... 

Mas aquilo que mais me chocou foi a Policia Federal ter descoberto, em sua casa, um crucifixo barroco – também património do Estado brasileiro - da autoria do Mestre Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como “o Aleijadinho”, que tradicionalmente decorava a secretária de todos os Presidentes da República do Brasil... e que se encontrava "em parte incerta" desde 2010.  

Seguramente Lula da Silva achava que era um “souvenir” da sua estadia no Distrito Federal...  

Do outro lado vamos ter que falar na responsabilidade do ainda presidente Bolsonaro na morte de 670k brasileiros, vítimas de covid-19; ou na condução de uma desastrosa política externa que conduziu a que se “rasgasse” o acordo de livre comercio entre o Mercosul e a União Europeia; ou ao boicote à importação de produtos brasileiros por causa de umas piadolas à mulher do presidente francês, Emmanuel Macron; last but not least quando incentivou o turismo sexual ao dizer, em 2019, “Brasil não é “paraíso gay”, mas “quem quiser vir fazer sexo com mulher, fique à vontade porque “Não podemos ser país do mundo gay, temos famílias”... fantástica esta postura sistematicamente misógina! 

Quanto, hoje, o brasileiro tem alguém no Palácio da Alvorada que achava que não valia a pena responder aos e-mails da Pfizer para comprar atempadamente vacina que protegesse a população brasileira contra o SARS-COV-2, porque a Hidroxicloroquina para além da Malária curava tudo; e que em quatro anos de mandato teve 4 ministros da Saúde (Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga). 

NB: Mas, diga-se, em abono da verdade, que o presidente Jair Messias Bolsonaro, em minha opinião, não foi o único responsável pelas 670k mortes de brasileiros por covid-19. Houve também responsabilidade por parte de alguns Governadores, de alguns Perfeitos, da corrupção que infelizmente é característica de alguma classe política (transversal da esquerda à direita). Lembro, a título meramente de exemplo, do caso do Senador Chico Rodrigues (DEM-RR) que, em outubro de 2020, teve sua residência, em Boa Vista (RR), alvo de uma operação de buscas por parte da Polícia Federal intitulada “Desvid-19”.  

Eram, na altura, investigadas contratações realizadas no âmbito da Secretaria de Estado da Saúde, envolvendo o desvio de aproximadamente R$ 20 milhões que deveriam ter sido utilizados no combate à pandemia de SARS-CoV-2. A Polícia Federal apreendeu dinheiro vivo dentro das cuecas do Senador. Os investigadores encontraram também cerca de R$ 30 mil na residência de Chico Rodrigues. 

E finalmente, também o povo brasileiro que durante a pandemia, continuou a encher as praias (desrespeitando as proibições), a frequentar os estádios de futebol, a não usar mascaras (apesar da obrigatoriedade do uso), a não respeitar o distanciamento social e a ir beber “chope no boteco”... e o vírus não perdoou o “jeitinho brasileiro”. 

Em conclusão; para se ser Chefe de Estado não basta ganhar eleições (isto aparentemente é o mais fácil) é necessário ter-se empatia para com o povo que se governa, ser-se um exemplo para a Nação, ter um desígnio nacional, ser-se um elemento agregador (e não de divisão) e não se ser um franco-atirador e eliminar politicamente todos aqueles que nos ajudaram a eleger como presidente... só fazer demagogia e difundir “fake news não chega!