Parece-me por demais evidente porque é que, hoje, irei versar nesta crónica (escrita simultaneamente, por mim, em Português e Inglês) o primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras e, com especial enfoque, para aquilo que se passa em Portugal com a comunidade brasileira.
Aliás, começaria por relatar dois - pequenos - episódios de xenofobia que se passaram comigo, em menos de um ano, e que eu ainda hoje não sei se adjectivar se são só hilários ou simplesmente patéticos...
Contextualizando, todos os meus amigos sabem que me orgulho do facto da minha família paterna, de origem galega, ser brasileira e predominante carioca, pois emigrou, à época, para o Império do Brasil, em meados do século XIX, estabelecendo-se na então Província do Rio de Janeiro. Contudo, eu nasci em Portugal, em Outubro de 1961, no Hospital de São João, na freguesia de Paranhos, na cidade do Porto, de Pai brasileiro (Carioca) e de Mãe portuguesa (Coimbrã). Como fui registado no Consulado Brasileiro, possuo nacionalidade brasileira (cidadão nato)... agora, obviamente que sou cidadão português!
O primeiro episodio xenófobo que vos quero relatar passou-se há cerca de um ano, em Cascais, falando com uma “amiga” (nascida em Lourenço Marques, quando aquela ainda era capital de uma província ultramarina portuguesa) que me disse: “Você vai-me desculpar, mas já não suporto tanto brasileiro aqui em Cascais... onde quer que se vá só se ouve falar “brasileiro”. Não vejo a hora de VOCÊS voltarem para a vossa terra...”
O caricato da situação é só ter uma “africana” xenófoba dizer a um “europeu” para voltar “para a terra dele”... é só hilário!
O segundo episódio passou-se, há cerca de uma semana, num chat na internet, quando debatia com um conterrâneo meu, tripeiro (que está a par da minha condição de dupla nacionalidade), a propósito dessa alegada “estória” de Dom Afonso Henriques ter batido, ou não, em sentido literal na Senhora sua mãe, Dona Tareja...
Eis se não quando, vem de lá um internauta, natural de Tavira (logo do Reino dos Algarves) e que, não entendendo o enquadramento galhofeiro da conversa, começa por me mimosear com um “Oh zuca, eu não te admito faltas de respeito para com a historia de Portugal, volta mas é para a favela onde moravas no teu país!”
E foi para ouvir “baboseiras” destas que, em 1249, Dom Afonso III conquistou o Algarve... M’á que jêto!
Agora, num registo mais sério!
Irei votar, como é obrigatório para todos os cidadãos brasileiros, no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, agendado para amanhã, dia 2 de Outubro, domingo, no Consulado-Geral do Brasil em Lisboa.
Não faço segredo nenhum, disse-o e volto a repetir, escrevi-o vezes sem conta no meu outro blog “Saravá”, que só aborda temas brasileiros e que tem perto de 250k seguidores (https://www.saravajosechilao.com/);
NB: Não vou votar nem no Lula, nem no Bolsonaro !
A situação brasileira é extraordinariamente complexa, para a poder resumir aqui em duas linhas. Mas, direi tão somente isto;
Não voto na reeleição do Bolsonaro (apesar de eu ser conservador) porque não há nada que eu despreze mais do que a direita troglodita e caceteira.
Ainda, ontem, dia 30 de Setembro, sexta-feira, o Brasil, a China, a Índia e o Gabão foram os únicos países que se abstiveram da votação realizada no Conselho de Segurança da ONU para condenar a anexação de territórios da Ucrânia pela Rússia. A proposta foi levada ao Conselho pelos Estados Unidos e pela Albânia, mas foi vetada pelos próprios russos. A resolução visava condenar o Kremlin pela anexação das regiões da Ucrânia do Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, alegando fraudes e falta de transparência no referedum realizado esta semana.
Mais, durante estes 4 anos que esteve no poder, Bolsonaro foi um dos grandes responsáveis (gosto de salientar o facto de não ter sido o único) pela morte de 686 mil brasileiros vítimas da pandemia de SARS-CoV-2. Insistiu, durante o primeiro ano, no tratamento através da cloroquina e não comprou imunizantes para a população.
A condução da política externa foi no mínimo pior que desastrosa. “Rasgou” um tratado de livre comercio entre o Mercosul e a União Europeia (que levou anos a ser negociado) porque achou “mais engraçado” contar piadas em público sobre a mulher do Presidente francês, Brigitte Macron. Colide de frente com o maior parceiro comercial do Brasil, a República Popular da China, o que teve um impacto devastador em termos da balança comercial e consequente provocou um aumento exponencial da taxa de desemprego, tudo por razões fúteis. Já nem falo da desflorestação ilegal da Amazónia, do fim da “Lava Jato” o que permitiu que o Lula da Silva fosse solto, o papel – sinistro - dos quatro (4) filhos durante o mandato do pai e por aí vai...
Não tem o mínimo de sentido de Estado. Ainda há dias, no dia 7 de Setembro, durante as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, em Brasília, com o Presidente de Portugal ao seu lado no palanque, durante o seu discurso, em que não se referiu uma única vez à independência do país, nem tão pouco à figura do Imperador Dom Pedro I (IV de Portugal) cujo coração fez deslocar expressamente da cidade do Porto para o Brasil, optando antes por uma toada de comício eleitoral. Depois de beijar na boca a mulher, Michelle, puxou pelo coro de algumas centenas de milhares de apoiantes, concentrados na Esplanada dos Ministérios, para que gritassem em uníssono “imbroxável"... (aquele homem que não sofre de disfunção eréctil). Chique...
Já quanto a Lula da Silva, o alegado defensor das liberdades e o grande democrata, direi apenas isto, num evento promovido pela Fundação Maurício Grabois, no dia 13 de maio de 2013, a Professora Doutora Marilena Chaui, considerada uma das filósofas mais importantes do Brasil, uma das mais influentes intelectuais do país e co-fundadora do Partido dos Trabalhadores (PT) disse o seguinte:
“Eu odeio a classe média. A classe média é o atraso de vida. A classe média é a estupidez; é o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. É uma coisa fora do comum. (...) A classe média é uma abominação política, porque é fascista; é uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante. Fim.”
Isto foi dito na presença de Luiz Inácio Lula da Silva (que ria) e que aplaudiu no final.
Quem duvidar pode ver aqui o vídeo (Link: https://www.youtube.com/watch?v=svsMNFkQCHY&ab_channel=TBIAllNewBlog02/04/22)
Mais, Lula da Silva volta a ser candidato a presidente da República só porque, em janeiro de 2022, a justiça brasileira mandou arquivar todos os processos de corrupção que pendiam sobre si por se verificar a prescrição dos casos e não por se ter provado a sua inocência!
Mais, lembro que o antigo presidente Lula esteve 580 dias preso em Curitiba, porque viu a sua sentença ser confirmada por três instâncias do poder judicial brasileiro, entre elas o STJ e o STF e não somente por culpa do agora “incompetente e parcial” ex-juiz federal Sergio Moro como a esquerda tanto gosta de apregoar.
Mas, falemos um pouco de Portugal e desta vaga de emigração brasileira que parece enfadar uns quantos portugueses mais diletantes.
Quem me conhece sabe que estou muito longe de ser um perigoso “comunista”, mas quando vivemos num país em que a 1 de janeiro pp entrou em vigor um novo valor da Retribuição Mínima Mensal Garantida (RMMG), vulgarmente designada de salário mínimo nacional, que passou a ser de 705 euros brutos mensais. Valor que representa um aumento de 40 euros, face aos 665 euros anteriormente praticados, continuamos a ter um dos mais baixos salários mínimos da União Europeia.
Apesar disso, como já o escrevi, temos a Caixa Geral de Depósitos a apresentar lucros de 486 milhões de euros no primeiro semestre do exercício de ‘22, suportado na melhoria do custo de risco de crédito e da área internacional, isto apesar da crise provocada pela guerra na Ucrânia, da inflação se situar nos 9% e do risco de incumprimento de muitos de aqueles que recorreram ao crédito hipotecário.
Já para não mencionar aqui uma discussão que em tempos tive com um Administrador alemão da Siemens Portugal, o qual se gabou na minha cara de pagar "apenas" 25% a um engenheiro informático português do que aquilo que pagava a um congénere alemão a trabalhar na mesma empresa e na mesma função, mas na Alemanha. Mais, o português pensava “out of the box” e ficava a trabalhar "overtime” o que não era remunerado (palavras suas)... bem-vindos à nova escravidão!
Quando um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, de Outubro de 2021, refere que apenas um terço dos gestores portugueses tem formação superior, mas da mesma forma que 43% dos portugueses, com idade entre os 30 e 34 anos, já têm cursos superiores, ou seja, temos uma taxa de escolaridade do ensino superior acima da meta europeia... está tudo dito!
NB: Mas o mercado de trabalho está a criar um preocupante paradoxo. A geração de jovens portugueses mais qualificada de sempre não encontra emprego de qualidade, no qual possa aplicar as suas competências especializadas. Apesar de disporem de elevados níveis de formação, têm muitas dificuldades em entrar no mercado de trabalho e quando finalmente o fazem sujeitam-se a empregos precários e muitíssimo mal remunerados. Perante essa realidade optam por emigrar e são os outros países que beneficiam do nosso investimento feito na formação. Em contrapartida, temos as listas intermináveis de espera para cirurgias e para consultas de especialidade no SNS; com os concursos desertos para especialidades para Centros de Saúde em todo o país.
Com uma população envelhecida, pirâmide etária invertida, para suprir as falhas de falta de mão de obra, abre-se as portas à emigração vinda do brasil e de outros paises da CPLP... voilá!
Que como diz a Dona Clara Ferreira Alves, na SIC Noticias, “os brasileiros até servem bem à mesa”...
Á semelhança do que fez a República da Irlanda, o país até teria tido condições para sair agora do maior colapso da economia portuguesa, ocorrido em 2020 e que foi a maior contração anual registada desde a queda da monarquia e a mais recente num conjunto de 25 quebras anuais do Produto Interno Bruto (PIB) numa série desde 1910. Coisa pouca portanto...
Só que no passado dia 30 de janeiro, convirá aqui recordar que houve eleições legislativas e que os eleitores portugueses – sim os tugas - os mesmos que apesar de a vida lhes ensinar o saber de experiência feito e de o Partido Socialista, em 47 anos de democracia, já ter levado Portugal três (3) vezes à bancarrota, entenderam por bem, conferir-lhe 41,37 % dos votos válidos, o que correspondeu a 120 deputados eleitos, ou seja, a uma maioria absoluta na Assembleia da República.
Logo, queixam-se agora do quê?
O Dr. António Costa foi eleito democraticamentee está a pôr em prática o modelo social que os portugueses escolheram em eleições livremente disputadas há apenas seis meses.
Podem invejar (que é tão típico do tuga) o desenvolvimento económico dos restantes parceiros na União Europeia, mas só se podem queixar das suas próprias escolhas ou da falta delas... quando se abstém porque ficam em casa ou porque preferem ir para a praia!
Aceitem que dói menos!
Como grande admirador que sou de Nelson Rodrigues, jornalista, escritor e por muitos considerado o mais influente dramaturgo contemporâneo brasileiro, cito dele esta sua frase "Os idiotas vão tomar conta do Mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.