QUEM DENTRE VÓS NÃO TIVER PECADO, ATIRE A PRIMEIRA PEDRA!  

Contextualizando, o jornal online “Observador” noticiou, ontem, que o Senhor Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, havia pedido uma reunião com o Papa Francisco após terem sido conhecidas as notícias das últimas semanas sobre a questão dos abusos sexuais e terá mesmo manifestado a sua disposição de resignar, citando o jornal “Nascer do Sol”, que se baseava em fontes próximas do Cardeal. 

E neste encontro, na Santa Sé, adiantava o jornal “Nascer do Sol”, terá estado também em equação a sua continuidade no cargo, enquanto Cardeal-Patriarca de Lisboa.  

O jornal online “Observador” conseguiu apurar que D. Manuel Clemente irá, no entanto, manter-se no cargo que ocupa, já que tanto ele como o seu antecessor, D. José Policarpo, cumpriram com todas as orientações, quer canónicas, quer civis, em vigor à data da ocorrência dos factos em causa, como aliás veio a ser dito na carta aberta que o Senhor Patriarca publicou no site do Patriarcado de Lisboa, três dias após a notícia ser publicada no “Observador”.  

NB: Pena é que, em nome da ética ou da vergonha, haja (ou tenha havido) para aí uns quantos ministros socialistas que, independentemente do número e/ou quantidade escandaleiras em que possam ter estado envolvidos, renunciar ou demitir-se dos cargos que ocupam, é ideia que nunca se lhes tenha ocorrido...  

Ainda segundo o jornal “Nascer do Sol”, o Papa Francisco terá inclusive pedido a D. Manuel Clemente que permaneça no cargo até às Jornada Mundiais da Juventude, a realizar em agosto de 2023, isto se o seu estado de saúde permitir...  

Fico triste pelo facto da imprensa portuguesa em geral e do jornal online “Observador” em particular,  tenderem a generalizar este anátema dos abusos sexuais sobre toda uma comunidade que congrega 1,329B fiéis no mundo inteiro e que constitui a Igreja Católica... 

Muito provavelmente os senhores jornalistas do “Observador”, ao lançarem estas atoardas, não devem ter noção que os Católicos Apostólicos Romanos representam cerca de 19% da população mundial.  

Obviamente que como pai, como católico, como advogado e, sobretudo, como cidadão (já o disse e não me canso de o repetir) acho que se impõe uma “politica de tolerância zero em relação à pedofilia”.  

Porém, a Igreja é muito, mas muito mais do que aqueles alguns (muito poucos) pedófilos que nos tem conspurcado para nossa vergonha! Mas, também não se pode confundir o todo com a parte... 

Como sou catequista na Paróquia de Cascais, pensei: vou abrir a Bíblia e inspirar-me numas passagens do Evangelho segundo São João para ilustrar esta minha crónica...  

Assim, esta descrição de São João (Jo 8, 1:11) faz-nos ver Jesus a regressar do monte das Oliveiras, onde pernoitara, de manhã cedo, de volta ao Templo, senta-Se e começa a ensinar o povo que se aproximara d'Ele. Alguns fariseus e doutores da Lei também se aproximam, mas para O testar. Trazem-Lhe uma mulher apanhada em flagrante adultério. Desde logo a discriminação, pois falta-nos o homem que com ela alegadamente cometera o adultério e para quem a Lei de Moisés exigia o mesmo tratamento. Colocam-na no meio dos presentes. Humilhação completa. Não bastava ter sido surpreendida em falta era agora exposta perante todos. 

Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei, Moisés manda-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?”. Trata-se claramente duma armadilha. Se condenasse aquela mulher, Jesus não seria melhor que aqueles que lha apresentaram e cairia uma das facetas essenciais do Mestre da Sensibilidade, a Sua delicadeza, tolerância, acolhimento dos pecadores e publicanos. Não condenando, estaria a ser conivente com o pecado e a contrariar a Lei de Moisés, que o povo judeu tem como referência imprescindível para a religião. 

"Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão". E contrapõe: "Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!” E novamente Jesus nos faz olhar para o chão das nossas misérias. Para atirar a primeira pedra é preciso alguém impecável, que não tenha fraquezas, nem pecados, nem telhados de vidro. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados.

No final, diz Santo Agostinho, "todos saíram da cena. Somente ficaram Ele e ela; ficou o Criador e a criatura; ficou a miséria e a misericórdia. Ficou ali apenas a pecadora e o Salvador". Jesus levantou-Se e disse-lhe: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?”. Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Disse então Jesus: “Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar”. 

Foi desta forma inteligente e humilde que Jesus Cristo salvou a vida a Maria Madalena. A lapidação ou apedrejamento até à morte de um adúltero/a ou apóstata tem as suas origens na longínqua Mesopotâmia, é objecto de passagens bíblicas. De acordo com esta, eram necessárias quatro testemunhas idóneas que, de facto, testemunhassem o acto, o que dificulta sobremaneira a apresentação da prova do "crime", bem como levanta sempre dúvidas entre os entendidos na matéria sobre a veracidade da acusação. 

Lembro, também, aqueles que se apressam a atirar a “primeira pedra” que os católicos não se limitam a orar, meditar e ir à missa... vamos fazendo outras coisas, com a Graça de Deus! 

Transformar a sociedade com a força do Evangelho sempre foi um desafio para os cristãos. Os católicos apoiam-se na “doutrina social da Igreja”, aquilo que designa o conjunto de orientações da Igreja Católica para aplicar e fazer ter ressonância da Boa Nova de Jesus Cristo nas questões sociais. 

A doutrina social da Igreja reúne todos os meios do magistério católico sobre tudo aquilo que implica a presença do homem na moderna sociedade e no contexto internacional. Trata-se de uma reflexão feita à luz da fé e da tradição eclesial. 

Segundo os números disponibilizados, em 2021, pela Agência Fides, agência de notícias do Vaticano, a Igreja Católica mantém 258.706 instituições de educação, saúde, de beneficência e assistência. A saber; 

Só na área educacional a Igreja Católica mantém 142.521 instituições responsáveis pela educação de mais de 63,6M de estudantes, desde os infantários, passando pelos estudos primários, secundários, superiores e profissionalizantes. Distribuídos da seguinte maneira por todo o mundo: 

73.263 infantários frequentadas por 6.963.669 alunos; 

96.822 escolas primárias frequentadas por 32.254.204 alunos; 

45.699 institutos secundários frequentados por 19.407.417 alunos; 

2.309.797 alunos em escolas superiores e 2.727.940 estudantes universitários. 

 

Já na área da saúde e da beneficência e assistência a Igreja Católica administra:

5.034 hospitais; 

16.627 dispensários; 

611 leprosários; 

15.518 casas para idosos, doentes crônicos e deficientes; 

9.770 orfanatos; 

12.082 jardins de infância; 

14.391 consultórios matrimoniais; 

3.896 centros de educação e reeducação social; 

38.256 instituições de outro tipo. 

Para terminar, já nem vou mencionar o papel da Cáritas Diocesana de Lisboa que, regendo-se ela, também, pela doutrina social da Igreja e pelas orientações definidas pelo plano pastoral diocesano e pelos imperativos de solidariedade, responde diariamente a situações muito graves de pobreza e de exclusão social na Diocese de Lisboa. 

... "Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!"