POUR DIRE LA MOINDRE DES CHOSES

Nota prévia: Assim como o senhor Engº Carlos Moedas, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, eu descendo de emigrantes e tenho dois (2) dos meus filhos emigrados, logo, também não recebo lições de moral de ninguém!

Numa altura em que a sociedade vive obcecada com o conflito da Ucrânia, que é gravíssimo sem a menor das duvidas, aparentemente parece ter-se esquecido, adaptando ligeiramente as palavras de um antigo presidente da república portuguesa, “que há mais vida para além dos montes Urais”...

Este fim-de-semana uma embarcação rudimentar que transportava a bordo mais de cem (100) pessoas naufragou ao largo da Calábria, no Sul da Itália. Pelo menos cinquenta e nove (59) migrantes morreram no trágico naufrágio, entre eles uma criança com apenas um ano de idade.

O Presidente italiano, Sergio Mattarella, apelou uma vez mais - como já o vem fazendo há anos - a uma tomada de atitude por parte da União Europeia, a mesma UE cujos dirigentes acham que os países europeus do sul gastam "todo o dinheiro em copos e mulheres"...

Obviamente que as ONG’s, entrincheiradas nos partidos de extrema-esquerda, se apressaram a responsabilizar o governo de direita de Giorgia Meloni pela calamidade, como se a primeiro-ministro italiana fosse, porventura, Salácia, a mulher de Neptuno o deus romano dos mares...

Dei conta do ocorrido, numa das minhas redes sociais e lamentei o facto da União Europeia ser um projecto inacabado, uma vez que não há (por recusa de alguns dos Estados-Membros) uma política comum de imigração. Mais, os países do norte da europa consideram que aquilo que se passa no mar Mediterrâneo é um problema que não lhes assiste, mas sim, designadamente aos italianos, quando na realidade, nos termos do Acordo de Schengen, que aboliu as fronteiras internas de 23 países da União Europeia. A saber, Alemanha, Áustria, Bélgica, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, França, Finlândia, Grécia, Hungria, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polónia, Portugal, República Checa e Suécia, e ainda quatro países que não são membros da União Europeia: Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.

Mais, desde o dia 1 de janeiro de 2023, a Croácia também passou a integrar o Espaço Schengen, tendo assim suprimido os controlos de pessoas nas suas fronteiras internas terrestres e marítimas. A contrário todo o resto são fronteiras externas comuns da União Europeia e não do país X, Y ou Z.

Acontece que, ontem, alguém que eu vou denominar por “senhor X”, residente em Luanda e que não conheço de parte alguma, entendeu por bem comentar o meu texto sobre a tragédia dos náufragos ao largo da Calábria. Escreveu ele:

É importante garantir que TODO o refugiado, independentemente da sua cor da pele, crença religiosa e orientação sexual seja tratado com a mesma dignidade nas fronteiras com a União Europeia.

É importante que todo e qualquer SER HUMANO, independentemente da sua cor da pele, crença religiosa e orientação sexual tenha acesso à União Europeia

Ora a mim, que nestas coisas me ensinaram que é falta de educação virar a cara a quem quer que seja, entendi por bem responder ao dito do cavalheiro, sobertudo quando se deu ao trabalho de me escrever em "caps lock", seguramente para eu ler melhor...

Eis aqui a minha réplica;

Caro “senhor X”,

num mundo ideal também seria excelente que não houvesse corrupção em países ricos, como é o caso de Angola, mas infelizmente há!

Seria óptimo que não recaíssem suspeitas, como aparentemente parecem recair sobre altos dirigentes do MPLA , sobretudo sobre a senhora Eng. Isabel dos Santos, por desvio de dinheiros públicos angolanos durante décadas, enquanto isso o povo angolano continua a viver miseravelmente, pouco acima do limiar da pobreza e a abastecer-se no mercado do "Roque Santeiro", em Luanda.

O ideal seria que Africa, um continente absolutamente extraordinário, não continuasse dependente de ajudas externas por causa de radicalismos e de intolerâncias. Não quer que lhe fale da miséria do Zimbabué do Robert Mugabe? Ou do descalabro da Africa do Sul que se seguiu à morte de Madiba? Ou ao genocídio do Ruanda? Isto já para não falar agora nos estados falhados do Magreb com a “Primavera Árabe”...

O ideal seria que não houvessem "war lords" e "tiranetes" no continente africano que originam, todos os dias, redes mafiosas de tráfico que lucram com os milhares de migrantes sub-saharianos que tentam, desesperadamente, atingir o latíbulo europeu e acabam, desgraçadamente, a fazer do mar Mediterrâneo as suas sepulturas.

A União Europeia não pode ser (nem será) um enorme campo de refugiados! Iremos ser sempre solidários e prestaremos sempre apoio humanitário a quem dele precisar.

Mas, desenganem-se aqueles que clamaram e lutaram - muito justamente, diga-se - pelo fim do colonialismo nos seus países, durante as décadas de 50, 60 e 70 do século passado e que agora são os mesmíssimos que nos querem vir colonizar!

Seria irónico, "pour dire la moindre des choses" não?

Felicidades para si.”