Vou ser parco nas palavras, até porque outros mais avalisados já falaram antes de mim e pouco mais me restará dizer. Mas quando Portugal tem um Presidente da República, que por acaso até foi catedrático de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a propósito da participação da seleção portuguesa no Campeonato Mundial de Futebol FIFA de 2022 dizer que o “Qatar não respeita os direitos humanos. Mas, enfim, esqueçamos isto” ... fico boquiaberto!
O Senhor Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa era famoso, quando arguente em júris de doutoramento, pela forma caustica como "desfazia” os candidatos (a contrario sensu, por mera coincidência, no meu júri de doutoramento, tive como Primeiro Arguente, o Senhor Prof. Doutor António Rebelo de Sousa, a quem louvo a elevação Académica como entendeu conduzir a sua arguência).
Não serei eu, seguramente, que terei a pretensão de ensinar o que quer que seja a sua Excelência o Senhor Presidente da República. Contudo, enquanto cidadão português, nascido no ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1961, na cidade do Porto, nunca deixarei de exercer o meu Direito à Indignação!
O português, boçalmente orgulhoso de ser um povo de "brandos costumes”, ou seja, “manso”, mais habituado a limitar-se a assistir a programas televisivos de alto valor cultural como o “Big Brother” ou o “Dia Seguinte”, provavelmente não saberá que o Direito à Indignação exprime o escândalo de qualquer cidadão e/ou cidadã português(a) perante a indignidade, a falta de respeito, contra a violação inaceitável das regras elementares da convivência cívica, a reação sentida e legítima contra uma ofensa insuportável das regras em sociedade.
O Senhor Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa sempre foi assim ao longo da sua vida, até quando gozou com a cara de alguém que mais tarde viria a ser primeiro-ministro de Portugal. Refiro-me ao Dr. Francisco Pinto Balsemão, na altura seu patrão no jornal “Expresso”, do qual o Professor Rebelo de Sousa era Director. Tudo começou alegadamente com um repto lançado pela sua amiga Margarida Salema, irmã da Arqt. Helena Roseta, durante um jantar no restaurante Pabe. “Ó Marcelo, aposto que não és capaz de dar uma porrada no Balsemão”, terá desafiado Margarida Salema, contestando a isenção do “Expresso”. Marcelo Rebelo de Sousa, não resistiu e pediu aos gráficos do jornal para, numa página que já estava fechada, encaixarem uma frase que lhes entrega numa folha escrita à mão e onde se lia: "O Balsemão é lelé da cuca.” A frase aparece desgarrada e fora de qualquer contexto, no meio de um pequeno texto na “Gente”, uma secção satírica do "Expresso”, no dia 5 de agosto de 1978. Francisco Pinto Balsemão, que na altura estava de férias no Algarve, nem queria acreditar quando leu o jornal. Mal regressou à redação do seu jornal, chamou Marcelo e deu-lhe uma descompostura. Aflito, Marcelo Rebelo de Sousa desculpou-se como pôde ao patrão. Anos mais tarde diria que estava só a “testar até que ponto a revisão do “Expresso” estava a funcionar bem”. A verdade é que Francisco Pinto Balsemão quase o despediu. Porém, é que já nessa altura Marcelo já era demasiado valioso (e perigoso também) para ser despedido.
Ultimamente, em Portugal, infelizmente, temos assistido a um sem número de detentores de cargos públicos a fazerem coisas absolutamente inqualificáveis. Um desses actos vergonhosos é o de falarem demais...
Salvo o devido respeito, saber quando não falar é uma arte!