Há uns anos contaram-me uma anedota (infelizmente com alguma correspondência a situações reais) em que
“um velhote vai na autoestrada quando a mulher lhe liga.
- Sim?
- Olha, querido, tem-me cuidado! Ouvi agora nas notícias que vai um carro em sentido contrário!
- Um? Eles são às centenas!”
Assim está Portugal... está em negação colectiva!
As instituições há muito que colapsaram em Portugal. O sistema Judicial não funciona (porque uma justiça que não é expedita não é eficaz) e poder-se-ão apontar vários motivos, desde o portal “Citius”, criado em 2008, que corre num programa com mais de quatro décadas (como o Java) e que está sempre a “crashar”; ou os Senhores Juízes que têm demasiados processos distribuídos, que tem que estudar, redigir as próprias sentenças (muitas vezes nos seus computadores pessoais), sem ter nenhuma estrutura de apoio que os ajude nessa tarefa (vg como existe nos países anglo-saxões, em que os magistrados têm assistentes ou assessores, porque, há que lembrar, são parte de um órgão de soberania, ou seja, não esquecer que os Tribunais são o Poder Judicial. Já o Governo tem inúmeros assessores e adjuntos, mas isso não tem problema algum) e os Senhores Juízes não tem autoridade hierárquica alguma sobre os senhores funcionários judiciais, que a fazer fé nas estruturas sindicais, ainda são poucos!?
Já no que à Segurança Social concerne – que para mim é o pináculo da incompetência nacional – esta está mais preocupada em atribuir subsídios a quem não deles necessita do que a tratar verdadeiramente dos casos - urgentes e preocupantes – como seja de violência doméstica ou de famílias carenciadas!
Porque não seria justo se não o fizesse, uma palavra em relação aos Agentes da Autoridade, nomeadamente, aos homens e às mulheres que servem na Guarda Nacional Republicana e na Polícia de Segurança Pública (bem como nas outras forças policiais, que em minha opinião, para um Pais tão pequeno como Portugal, temos demasiadas. Mas isso é uma outra conversa!) que muitíssimo mal remunerados asseguram a segurança e a proteção das populações, muitas das vezes com o risco das próprias vidas.
Atendendo que também faço parte da classe, e só por isso, gostaria também de me pronunciar sobre a greve dos Professores e deixar aqui uma palavra a todos os meus Colegas.
Começaria por prestar a minha homenagem a todos os Excelentes Professores que, ao longo da minha carreira académica, me inspiram e com os quais fui aprendendo o pouco que hoje sei. A eles, os meus Mestres, o meu muitíssimo obrigado.
Depois, gostaria de salientar que não só não me revejo, como repúdio veementemente as ações do Senhor Mário Nogueira e da sua Fenprof, que mais não tem sido, ano após ano, do que uma caixa de ressonância da agenda política do Partido Comunista Português. Enfim...
Finalmente, quanto ao cerne da questão, o saber qual é o papel dos Professores na sociedade na actual sociedade portuguesa, bem como os valores remuneratórios, penso que o conseguirei resumir a uma única palavra: indigno!
Será pacifico afirmar que a sociedade em geral e a portuguesa em particular, se tem mostrado cada vez mais desprovida de condutas morais e éticas comparativamente aquilo que sucedia há uns anos atrás. A falta de respeito dos alunos pelos professores acontece com uma frequência absolutamente intolerável.
Antigamente, isso era algo inimaginável, porque mesmo que o aluno não suportasse o professor, tinha respeito por ele. Hoje, infelizmente, isso já não sucede!
Agora, para mim o mais grave é que a família, em casa, não ensina os filhos a respeitar os outros! Aliás, a família, de uma forma geral, abdicou do seu papel de educadora.
Actualmente, na vida academica, é frequente presenciar alunos sem limites. É comum haver um desinteresse generalizado dos pais na participação académica, observa-se os jovens estarem sem acompanhamento em casa em virtude da necessidade de os progenitores (tantas vezes monoparentais) trabalharem e exercerem as suas profissões.
Neste paradigma pós-modernista, constata-se a ausência dos pais e uma falta de disponibilidade para dar atenção aos seus filhos, os quais, na maior parte das vezes, passam demasiado tempo ligados ao computador, à televisão ou em “más companhias”...
Muitas famílias estão a terceirizar a educação dos filhos, logo a “delegar” nas nas escolas e/ou universidades aquele que é papel primário da formação ética e educacional dos futuros portugueses e que cabe, em primeira análise, à família!
Nesse contexto, a Academia passa a assumir e/ou aceitar responsabilidades que deveriam ser partilhadas. E, nesse novo paradigma, os professores permitem-assumem-aceitam a responsabilidade da educação do adolescente nos seus vários papéis.
Diante de tantas dificuldades, os professores questionam-se naquilo que devem fazer, sentem-se muitas vezes sozinhos, MAL PAGOS, na árdua tarefa de educar e, quase como que num grito de desesperança, sentem a necessidade de dizer não, como que um pedido de socorro, um não simbólico, num grito de dignidade que grita a favor dos seus alunos, um grito de alerta de que sem educação de qualidade se rompe com o futuro de Portugal.
Termino citando Padre António Vieira “Peço desculpas por esta longa missiva, porque não tive tempo de ser breve.”