OLHA, OLHA! O REI VAI NU!

Peter Welter Soler é um produtor alemão de 52 anos que se mudou para Lisboa há pouco mais de um ano. Viveu nos Estados Unidos, onde estudou e trabalhou, através de uma das suas empresas, a Fresco Film, (só) em produções internacionais tais como “Westworld”, “Guerra dos Tronos”, “Uncharted” ou “Killing Eve”.

Já com uma outra empresa sua, que tem com a sócia e sua mulher, a portuguesa Sofia Noronha, rodou em Monsanto, Portugal, algumas cenas para a série televisiva “House of The Dragon”.

Deu, recentemente, uma extensa e interessante entrevista ao jornal, online “Observador”, que saiu hoje publicada, sobre aquilo que é a sua perspectiva do fenómeno das plataformas de streaming e em particular da produção em Portugal. Selecionei algumas passagens por achá-las particularmente interessantes. A saber;

“Players como a Netflix decidem, sim. Mas há sempre quem decida, em Portugal também. Ou a RTP ou o Instituto do Cinema e Audiovisual. Decidem o que se produz e o que não se produz. Alguém tem de o fazer. Temos de perceber que nenhuma arte será boa se não encontrar um público. (...). No cinema é igual.

(...)

Entendo que os subsídios estatais são necessários, especialmente para as gerações mais jovens. Mas uma “Faço as minhas merdas e não quero saber. Não quero saber de ninguém. Não quero saber do público.” Não criam um produto artístico que apela ao público. Se realizar o meu guião e não tiver feedback de como chegar a mais gente, faço para mim próprio. Nos EUA raramente filmamos depois de rever o guião no mínimo umas dez vezes, até que a história resulte. Aqui são apenas duas ou três vezes, está ainda imaturo. Quando oiço “esta é a minha visão”, fico com dúvidas. Porque é que os europeus continuam a preferir o cinema norte-americano ao nosso? Porque entretém.

(...)

Portugal está a perder grandes produções porque nada é claro. Não sei quais, mas sei que sim. O processo não está a ser nada transparente. É o que toda a gente me diz cá. A possibilidade de uma conversa não é séria. Não pode haver “ses”. “House of the Dragon” esteve cá. Na segunda temporada talvez não aconteça (...)"

Em conclusão: É necessário chegar um produtor alemão, que conta no seu curriculum um sem número de co-produções em séries de maior sucesso das plataformas streaming da última década para nos vir dizer, em apenas um (1) ano de cá estar, que, afinal, Portugal é desorganizado, é burocrático, não tem qualquer politica para a cultura, que se está a perder grandes produções internacionais porque não há nenhuma politica de incentivos fiscais para as atrair (ao contrario do que acontece na vizinha Espanha) e que, há décadas o Estado concede subsídios (mais uma vez má gestão do dinheiro publico... proveniente dos impostos), sempre aos mesmos realizadores e produtores, para produzirem filmes que o publico não vai ver!

Que tristeza!!!

Fazendo aqui um paralelismo com o conto do Hans Christian Andersen eis chegada a hora, porque aparentemente toda a gente continua “a admirar a pseudo cultura que se vai produzindo” e que é subsídiada com dinheiro dos nossos impostos (para isso, já não importa a vinda do Papa Francisco...), porque ninguém quer passar por estúpido, e como a tal criança, gritar com toda a força:

– Olha, olha! O rei vai nu!