O MAU MATA-BORRÃO 

A primeira parte da entrevistado Senhor Presidente da República, Prof. Doutor, Marcelo Rebelo de Sousa à CNN Portugal e que foi transmitida, ontem, fez- me lembrar, a páginas tantas, aquela anedota:

“Vai um velhote na autoestrada quando a mulher lhe liga. 

- Sim? 

- Olha, querido, tem cuidado! Deu agora nas notícias que vai um carro em contramão! 

- Um? Eles são às centenas!” 

O Senhor Presidente, talvez denotando um ligeiro (quase que impercetível diria eu) laivo narcísico, admoesta “os sucessivos líderes de Direita” por não o terem querido seguir – ao contrário do “bom mata-borrão” do Senhor Primeiro-Ministro – de se “deslocarem” dele...

Mas, que lata...

Isto de ter que responder a bases de apoio, a eleitorados, militantes, Comissões Políticas Permanentes, Linhas Programáticas, Moções, Congressos é tudo uma grande chatice... afinal o que é que essa gente (cambada de ignorantes) entende destas coisas complexas que constituem matérias como “Finanças Públicas”; “Relações Internacionais”; e/ou “Direito Fiscal”... qual Imperador Romano, estará porventura convencido, o bom do Professor, que a única coisa que hoje importa provir aos portugueses é “pão e circo”?

O Senhor Presidente da República (ao volante da sua viatura, para dar um ar mais condicente com a sua condição de mero mortal) continuou a conversa, abordando de seguida a questão complexa do uso das escusas de responsabilidade pelos médicos, defendendo nesta entrevista que, em regra, a lei não permite o uso das referidas escusas de responsabilidade...

Contextualizando, os pedidos de escusa visam excluir a responsabilidade individual em sede disciplinar por falhas de diagnóstico e/ou terapêutica condicionada por mau funcionamento dos serviços e que afetem o cumprimento da boa prática médica, atentas as carencias várias com que se debate o sector da saúde.

Acontece que, já no início deste mês de agosto, cerca de uma centena de médicos internos de Ginecologia/Obstetrícia assinaram uma carta enviada à ministra da Saúde, Doutora Marta Temido, que, entre outros assuntos, informava a tutela da entrega de escusas de responsabilidade para os casos em que estiverem destacados para trabalho em urgência e as escalas não estiverem de acordo com o regulamento sobre a constituição das equipas médicas nestes serviços.

Já esta quarta-feira, dia 10 de agosto, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) revelou que todos os 14 médicos do serviço de urgência geral do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, no distrito de Lisboa, também haviam apresentado escusas de responsabilidade devido à “escassez permanente de recursos humanos” (isto, porque os niveis salariais dos médicos em Portugal são uma vergonha!).

Talvez, agora, o “mata-borrão” entenda que não se agradece a uma classe (e aproveito aqui para agradecer, também, aos enfermeiros, auxiliares de saúde, bombeiros e demais pessoal de saúde) toda dedicação, sacrifício e muitas vezes com custo da própria vida) que durante os dois anos de pandemia do SARS-CoV-2 deram desinteressadamente a este país para vir o Dr. António Costa, off the record, simpáticamente adjectiva-los “pelas costas”, enquanto dava uma entrevista para o Expresso:

"É que o presidente da ARS mandou para lá os médicos fazerem o que lhes competia. E os gajos, cobardes, não fizeram.

Ou também, como não são ex-diretores da informação de nenhum canal de televisão privado, o Primeiro-Ministro António Costa considerou que a Champions, em 2020, era “um prémio para os profissionais de saúde"

Atento que já iniciou o seu primeiro mandato, no dia 9 de março de 2016, e que durante estes seis anos tem sido um apoio constante (como aliás, agora, o vem a admitir) do Primeiro-Ministro, só tenho pena que o Senhor Presidente/Comentador, que até se confessa católico, não saiba que, deveria ter começado a entrevista à CNN por um mero “Acto de Contrição”... só lhe teria ficado bem!