Ó BEJA, Ó BEJA, VIDIGUEIRA À VISTA

Circula por aí, no Diário do Alentejo, edição do dia 22 de julho 2022, um artigo da autoria do jornalista Aníbal Fernandes, em que cita o Senhor Prof. Doutor Manuel Tão, Catedrático do Departamento de Geografia da Universidade do Algarve, sobre a possibilidade imediata que constitui o “Aeroporto de Beja: mais barato e (só) a 75 minutos de Lisboa”...

Este Investigador da UA afirma que a solução Beja, como complemento ao aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, custaria “menos de um quarto daquilo que, recentemente, a Vinci admitiu investir na transformação da base aérea do Montijo”. Mais, “a solução Montijo é uma aberração” e garante, ainda, que Alcochete “nunca estará construído antes de 2032. Precisamos de uma solução intermédia que resolva “o assunto entretanto” e essa solução é Beja que “pode ficar operacional no prazo de 48 meses”.

Acrescenta ainda que com a melhoria da ligação ferroviária “sem a necessidade de uma nova travessia do Tejo”, Beja ficaria a (apenas) 75 minutos da capital com comboios com capacidade para atingir os 200 quilómetros por hora. “Não digo com isto que a A26 não seja necessária, mas a ligação por comboio tem outra escola e oferece outro conforto e menos tempo de viagem”.

Isso é importante, porque Beja poderia ser, à semelhança do que acontece com Beauvais, em Paris, uma alternativa para os voos low cost: “quem escolhe essa forma de viajar valoriza o preço em vez do tempo. Ninguém se importaria de demorar mais uma ou duas horas para chegar ao hotel”, conclui o Professor Manuel Tão.

E eu, um pobre de Deus, clamo: Mas, que absurdo, Senhor Prof. Doutor Manuel Tão!

Ter um aeroporto que dista 173 km de Lisboa parece-me um bocadinho excessivo! Por exemplo, se eu quiser ir ao Porto de avião, teria então de fazer 1h51min de autoestrada para depois ter um voo de 0h40min?! Faz algum sentido isto?!

Mais, o Ilustre Catedrático de Geografia ao comparar Beja a Beauvais é só hilário!? Seguramente ter-se-á esquecido de mencionar que Beauvais dista 85,5 km de Paris (e não 173 km como Beja de Lisboa) e que leva uma média de 1h13min o percurso de carro, através de A16 para chegar a Paris (e não 1h51min como de Beja a Lisboa pela A2).

Depois, ao contrário do Senhor Prof. Doutor Manuel Tão por seguramente só ter a 4ª classe (ainda que muito bem tirada com a Professora Jacinta) só aprendi a fazer umas contas de merceeiro! Coisa que, aparentemente, neste país, a maior parte das pessoas se esquece de o fazer e por isso estamos sistematicamente na bancarrota!

Em 2013 o custo estimado só para o assentamento da linha de alta velocidade era de 160M de euros. Já o projecto do TGV, do Governo Sócrates, orçava em 1.359M de euros e decorria (só) ao longo de 160 km com uma linha de alta velocidade, ao lado da qual coexistiria uma via única destinada ao tráfego de mercadorias integrada no eixo Sines-Badajoz. Não existem (tanto quanto eu saiba) estimativas de custos mais atualizadas.

Sempre direi, ao contrário do que afirma este ilustre Investigador da Universidade do Algarve, que muito me custa a crer que a existência de uma infraestrutura aeroportuária que venha a servir no futuro Lisboa, atento o volume de passageiros que acarreta diariamente, seja viavel sem a necessidade da tal nova ponte sobre o rio Tejo que contemple comboios de alta velocidade.

Assim, parafraseando o Senhor ministro das Infraestruturas, Dr. Pedro Nuno Santos, ainda e sempre a propósito da sua “memorável” comunicação ao país, do passado dia 29 de junho, respeitante à solução que ele havia tomado sozinho, sem informar, nem consultar, ninguém sobre o novo aeroporto de Lisboa, ao ser então questionado sobre os custos destas infraestruturas (sempre o vil metal) nomeadamente quanto aos acessos e à possibilidade de ter de se construir uma terceira ponte sobre o Tejo, o Senhor ministro das Infraestruturas respondeu de forma diletante: “Vamos ter tempo para discutir isto. Teremos de fazer esse trabalho agora.”... como quem diz; alguém, um dia, talvez, há-de pagar a factura. Isso agora também não interessa para nada!

Continuando, tenho um filho que é piloto da Ryanair, logo companhias low cost para mim não são propriamente uma grande novidade. Ainda que confessando desde já não ser tão viajado como a maioria dos meus concidadãos que agora, de repente, viraram todos experts em assuntos aeroportuários, mesmo assim, já sai das "berças" e estive em alguns aeroportos que servem companhias de low cost, tais como o de Aberdeen, o de Amesterdão - Schiphol, o de Berlim - Schoenefeld e o de Londres – Luton...

Lamento o quão actual está José Maria Eça de Queiróz quando escreveu que “Em Portugal quem emigra são os mais enérgicos e os mais rijamente decididos; e um país de fracos e de indolentes padece um prejuízo incalculável, perdendo as raras vontades firmes e os poucos braços viris.”

Isto, porque tenho três (3) filhos, os quais por falta de oportunidades interessantes de emprego em três áreas completamente distintas no nosso país, a saber, medicina, representação e aviação comercial, optaram todos por emigrar. Neste momento, o Francisco, na Suíça, aufere um salário muitas vezes superior ao vencimento de um Director de Serviços do SNS; a Mariana, com uma Licenciatura em Teatro pelo Conservatório Nacional e uma pós-graduação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, desiludida por ver a Dona Cristina Ferreira a preterir nos castings actores e actrizes com formação e experência em detrimento dos seus amigos "talentosos”, tais como o Paulo Futre ou a Francisca Cerqueira Gomes, rumou ao Chipre onde agora é PADI Scuba Diving Instructor; finalmente o Frederico está no Reino Unido porque foi contratado pela Ryanair, que acaba de adquirir 200 Boings e necessita de tripulações para os pilotar.

Em suma, desbaratamos a mais bem preparada geração portuguesa de sempre. Mas, os britânicos, os suíços, os franceses, os alemães e outros que tais agradecem-nos penhoradamente e usufruem dos jovens talentos lusos sem terem investido um só euro para tal.

Como dizia, há dias, a Dona Clara Ferreira Alves, no "Eixo do Mal", transmitido na Sic Noticias, em que acusava a intervenção do Prof. Doutor André Ventura sobre os emigrantes, na Assembleia da República, de ter sido "xenófoba" para a seguir acrescentar lapidarmente "até porque precisamos cá imenso de emigrantes brasileiros, porque eles são óptimos empregados de mesa"... ora, como o meu Pai é brasileiro (e eu também), lisonjeado por tamanho elogio, agradeço penhoradamente à Dona Clara Ferreira Alves, em nome de todos os candidatos brasileiros a empregados na área da restauração...