Ainda a propósito dos militares que se recusaram a embarcar no NRP Mondego, entendeu por bem o meu distinto Colega, Dr. Paulo Graça, vir ontem a público falar em defesa dos 13 militares, criticando declarações do CEMA, o senhor Almirante Gouveia e Melo, dizendo que estava "estupefacto" e "indignado" e que criticava a "condenação pública" que ofendia a "dignidade profissional e pessoal" dos seu constituintes e prometia que aqueles em devido tempo irão contar a sua versão que trará "luz completamente diferente".
Ora, estupefacto estou eu perante aquilo que fizeram os treze clientes do senhor Dr. Paulo Graça e sou “só” advogado há quarenta (40) anos e no que a Segurança e Estratégia concerne acho (não tenho bem a certeza, pois a idade não perdoa) que já fiz uma ou outra coisa...
Senão vejamos...
Em 1500, Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil numa nau construída em madeira, mas aparentemente, nos finais do século XV os marinheiros portugueses não tinham medo do Atlântico. Hoje, no navio patrulha costeiro NRP Mondego, comprado à Dinamarca em 2016, que é contruído em fibra para uma menor assinatura magnética, com 54 metros de comprimentos e uma boca de 9 metros, deslocando perto de 400 toneladas e um calado máximo de 3,4 metros, os militares recusaram-se a sair para o mar com a desculpa das condições meteorológicas serem adversas e de alegadamente haver alguns problemas mecânicos a bordo... acho extraordinário!
NB: O navio apesar de tudo está operacional e era uma missão militar de vigilância de um submarino russo.
Portanto, de acordo com estes 13 militares, não há problema nenhum em divulgar para a opinião pública (sendo que, goste-se ou não, Portugal está inserido numa Aliança Militar, a NATO) o estado de operacionalidade dos seus meios navais, na semana em que caças russos sukhoi 27 abateram um drone MQ-9 Reaper não tripulado dos Estados Unidos, que sobrevoava o Mar Negro.
Já o meu Colega desvaloriza uma insubordinação a bordo de um navio da Marinha de Guerra Portuguesa no preciso momento em que a cidade ucraniana de Bakhmut, na província de Donetsk, está sitiada pelas forças russas, comandas pela milícia privada Wagner e que Kiev é bombardeada diariamente, com a consequente perda de vidas humanas. Mas aquilo que preocupa mais a este ilustre causídico é “o julgamento em praça publica” que possam eventualmente fazer dos constituintes dele...
Com o devido respeito para com o meu Distinto Colega, a “pedra de toque” das forças armadas é a disciplina e a hierarquia. Tanto quanto eu saiba ainda não voltamos aos tempos do PREC dos “soldados unidos vencerão”... pois admitir “sovietes” de marinheiros e soldados seria, na minha modesta opinião, fatal para a eficácia das nossas Forças Armadas na execução das suas missões, logo fatal para o regime democrático.
Quem me conhece sabe que não sou adepto das teorias conspirativas. Contudo, neste caso concreto parece-me ser um cenário de instrumentalização política de um certo partido nas forças armadas.
É por demais sabido quem apoia a intervenção russa na Ucrânia, tem greves em marcha em todos os sectores, desde a saúde, professores e transportes. Só faltava agora lançar o caos também nas Forças Armadas.
Isto porque cá não temos drones para abater… caso contrário também esses vinham abaixo!