A memória é curta e, por isso, convém às vezes reavivá-la.
O então Presidente, Senhor Dr. Jorge Sampaio, entretanto falecido, dissolveu a Assembleia da República duas vezes, no decurso do seu segundo mandato presidencial.
A primeira na sequência da demissão do Senhor Eng.º António Guterres enquanto primeiro-ministro de Portugal e a segunda vez após quatro meses de actuação do Governo do Senhor Dr. Pedro Santana Lopes, que adjectivará mais tarde como "rocambolesco" e "um incidente".
Logo desde a cerimónia de tomada de posse, em que o Dr. Paulo Portas foi surpreendido ao saber no momento que iria assumir a pasta do Mar, juntamente com a Defesa, até ao facto dos papeis do discurso se terem espalhado todos pelo chão... quem não!
Polémicas na comunicação social, como o afastamento do Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa do seu lugar de comentador político na TVI na sequência de críticas do então ministro Dr. Rui Gomes da Silva; o atraso na colocação de professores no início do ano lectivo e o uso da Marinha para repelir o "barco do aborto", terão sido alguns dos casos que marcaram os quatro meses de governação do Dr. Pedro Santana Lopes.
Mas, para o Presidente Jorge Sampaio, a gota de água chegou em finais de novembro desse ano, quando o Senhor Dr. Henrique Chaves, um dos ministros mais próximos do Dr. Santana Lopes, se demitiu, acusando o então primeiro-ministro de "grave inversão dos valores de lealdade e verdade".
NB: Não será de somenos referir o facto de que à data o governo, por coincidência, também era suportado por uma maioria absoluta na Assembleia da República.
Ou seja, para um presidente socialista não há cá destas coisas menores como a “estabilidade”, “selfies”, “indicies de popularidade” ou “idas ao Qatar para dar “bitaites” ao então Selecionador como a Seleção Nacional deve, ou não, jogar contra Marrocos”. Aplica os poderes que a Constituição da República Portuguesa põe à sua disposição e mais nada!
Para o Presidente Sampaio bastou um "Fartei-me do Santana como primeiro-ministro", como mais tarde viria a declarar, e em julho de 2004, decidiu-se pela dissolução da Assembleia da República e pela convocação de eleições antecipadas.
Devo confessar que sempre apreciei esse seu lado anglo-saxão “so straight to the point”, isso e o facto de escrever discursos que só ele entendia... enfim!
Agora, vivemos manifestamente outros tempos presidenciais!
As trapalhadas obviamente não devem ser percecionadas por Belém como sendo assim tão graves...
O que são indemnizações milionárias pagas com o dinheiro dos contribuintes, não se sabe bem como, comparadas com discursos espalhados pelo chão?
Ou o nepotismo, com a tal "grave inversão dos valores de lealdade e verdade", coisa, aliás, que neste governo também não há...
O estranho é que depois ainda nos admiramos porque é que caminhamos, a passos largos, para a cauda da Europa... enfim!