BLA BLA BLA...WHISKAS SAQUETAS

Apesar de Portugal ter ocupado a última posição do ranking da literacia financeira dos 19 países da zona euro, segundo um gráfico do artigo “A comunicação do BCE com o público em geral”, publicado há uns meses pelo Banco Central Europeu (BCE), são epistolas como estas duas últimas, da família Figueiredo, em que Pai e Filho partilham as reflexões que fazem, apesar de não conseguirem precisar exactamente a quem as respectivas cartas se dirigem, que me fazem ainda acreditar que há esperança para Portugal...

Como é por demais sabido, existem diversos tipos de produções literárias, como sejam romances, poemas, contos, tragédias, comédias e por aí vai... e que, para melhor compreendê-los, os estudos linguísticos e literários organizaram essas produções em grupos, os chamados géneros literários.

Por definição, os géneros literários podem ser compreendidos como conjuntos de textos da literatura classificados segundo as suas especificidades.

Ora, acontece, salvo melhor opinião, que nestas supramencionadas cartas abertas, estamos perante um novo género, que eu me atreveria a classificar de híbridas, já que vão buscar características ao género lírico clássico, porquanto “nos dão musica”; há contornos épicos ou de epopeia, que, comparativamente a algumas das epopeias gregas mais conhecidas como a Ilíada e a Odisseia, de Homero, fariam Aquiles e Ulisses corar de vergonha de tão pequenininhos que os seus feitos foram; há também género dramático, porque, manifestamente, isto já é “de faca e alguidar” e no que ao géneros literários modernos isto já mais parece “uma novela mexicana”...

Senão vejamos;

O Pai, Sérgio Figueiredo, ex-Diretor de Informação da TVI, qual Simão Pedro, não via qual era o problema do ministério liderado por Fernando Medina o contratar para desempenhar funções de consultor, quando ele e o ministro até já se conheciam dos tempos do ISEG em Lisboa. Mas, se aqui há conhecimento e confiança mútuos, e, pelo menos, reconhecimento da competência do primeiro pelo segundo, logo, até aqui nada havia a censurar, já o contrato celebrado entre o Ministério das Finanças e Sérgio Figueiredo era por um período de dois anos e no montante global de € 139.990,00 acrescido de IVA à taxa legal em vigor e é a partir daqui que tudo começou a ser mais criticável!

Trocando por miúdos, no contrato em questão constava uma remuneração equiparada à do ministro das Finanças, mas sem a exclusividade à qual o ministro está obrigado, nem tão pouco a sua responsabilidade politica! Mais, o objecto daquele contrato era a elaboração de “estudos e propostas, nomeadamente a auscultação dos stakeholders relevantes na economia portuguesa, no âmbito da definição, implementação e acompanhamento de políticas públicas e medidas a executar, da avaliação e monitorização dessas políticas” bem como aconselhar “nos processos internos de tomada de decisão”.

À primeira vista, até parecia que as suas funções seriam tão ou mais importantes que as do próprio ministro, dados os montantes envolvidos, o que desqualificaria quer a Função Pública, quer o próprio ministro!

Finalmente, pergunto se Sérgio Figueiredo foi sujeito a um processo de seleção formal, essencial ao preenchimento de cargos não políticos no Estado? Em caso afirmativo, quem foram os candidatos não selecionados? Se não foi, por que razão não foi seguido o processo normal?

Depois vem ele escrever uma carta aberta, dizendo que bla bla bla... whiskas saquetas... bla bla bla renúncia ao cargo nas Finanças bla bla bla... whiskas saquetas... bla bla bla... 

Hoje, somos surpreendidos (eu pelo menos fui) por outra epistola, desta feita da autoria do filho, Sérgio Ribeiro, que tenta demonstrar que o apoio que a sua empresa recebeu da Câmara Municipal de Lisboa, no valor de € 350.000,00 (trezentos e cinquenta mil euros), foi apenas uma parte quase insignificante do custo total do evento na área da sustentabilidade chamado Planetiers World Gathering 2020.

Mais o filho de Sérgio Figueiredo, que lamenta ser “culpado de ser filho do meu pai”, diz também que o seu projeto custou três milhões de euros e que foram angariados, entre investimento público e privado. Por outras palavras o apoio da edilidade representou cerca de 12% do custo total do projeto. Para que se saiba, só o Turismo de Portugal, que deu um apoio maior, teve uma participação superior a um milhão de euros. Lindo!!!

Pelo caminho, fica-se a saber que o jovem Ribeiro trabalhou “enquanto estudava, não porque precisasse, mas porque queria ser autossuficiente financeiramente.” Abençoado!

Ou que “oito anos depois, após muito trabalho com os sacrifícios pessoais, de saúde e de tempo para a família, quando se decide começar um projecto do zero, estaria envolvido numa realidade que não é a minha e que é decepcionante: arrastado para um tema que não me diz respeito.” 

Ele continua com este arrazoado, duma forma até naïf, a tentar convencer todos quantos que não foi o “apelido”, mas antes ”o esforço, a dedicação, o trabalho e a valorização que tantas entidades e personalidades, nacionais e estrangeiras, fizeram que viabilizaram a Planetiers World Gathering 2020”... ora pois!

Termina a dizer que não escreve “este texto à espera de algum tipo de piedade. As dificuldades e contratempos são um risco inerentes aos projectos.”... numa altura em que o país é pasto de chamas e em que continuamos a ter em alguns hospitais com urgências gerais limitadas, o egocentrismo de algumas personagens não deixa nunca de me surpreender...

Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?