Quem é que nunca já ouviu esta mais que batida ameaça, tão característica do tuga, do "agarrem-me, se não vou-me a ele”... às vezes até completada com um paradoxal “Então?! Ninguém me agarra???”
Não pretendo fazer aqui nenhuma análise sociológica (até porque nem sequer é esta a minha área de investigação) mas tenho que reconhecer que um povo que se gaba de ter “brandos costumes” quando na realidade o que ele é “manso” é algo que sempre me deixou um pouco perplexo, “pour dire la moindre des choses”...
Tenho para mim que não é tanto uma questão de semântica, mas mais um estado de negação colectivo!
Se não vejamos;
Temos uma economia estagnada vai para 40 anos, sem grande horizonte de crescimento porque é obrigada a suportar, através duma enorme carga fiscal, o serviço da divida externa, bem como enormes “elefantes brancos”, nomeadamente o gigantesco aparelho do Estado o qual não gera riqueza, pois quem o faz é o sector privado.
NA: Repare-se como não referi a TAP!
Ora se o sector privado está "estrangulado" com a carga tributária que tem de pagar ao Estado (porque este é "balofo" e pesado) aquele não investe e está condenado a continuar a pagar salários baixos.
Gera-se aqui um círculo vicioso; a saber, onde há mais Estado, há menos sector privado e onde há menos sector privado o Estado entra para suprir as faltas...
Mas, cada vez há mais funcionários públicos (que reclamam aumentos salariais, pasme-se!) e é o próprio Estado que o reconhece e sempre que há uma greve da função pública, geralmente convocada pela CGTP-Intersindical - não sei porquê - geralmente para uma sexta ou segunda-feira, vem sempre um qualquer sindicalista reivindicar (daí eu adorar o senhor Mário Nogueira), para além do já sacrossanto “aumento de vencimentos da função pública” há a acrescentar (invariavelmente) a contração de ainda mais funcionários "porque os serviços estão carenciados” ou a “efetivação dos precários”... ora pois, está claro!
E depois temos o Senhor Presidente da República a alertar os portugueses (logo o sector privado também, que 93% é constituído por PME's), que “não há liberdade sem saúde, educação e solidariedade social” ...
Fantástico! Adoro verdades à “Monsieur de La Palisse”
Para começar, em nome da dita "solidariedade social” seria excelente que a CGTP-IN parasse já com estas greves nos transportes, sempre às sextas ou às segundas-feiras, que mais não servem do que sabotar a já de si fraca performance da economia lusa que só agora começava a recuperar, após dois (2) anos de paragem, da maior recessão que há memória provocada pelo Covid-19, nomeadamente afectando o sector do Turismo que representa 19% do nosso PIB.
Ora, precisamente o que surpreende é a total passividade da sociedade portuguesa.
Politicamente, os sinais de descontentamento são muito ténues... fala-se muito, mas age-se pouco. É o tal princípio do “agarrem-me se não vou-me a ele”, também conhecido por “é só garganta” ...
NB: Eu também sou professor e estou totalmente solidário com as reivindicações da actual greve dos professores. Será pacifico afirmar que a sociedade em geral e a portuguesa em particular, se tem mostrado cada vez mais desprovida de condutas morais e éticas comparativamente aquilo que sucedia anos atrás. A falta de respeito dos alunos pelos professores acontece com uma frequência absolutamente intolerável.
Neste paradigma pós-modernista, constata-se a ausência dos pais e a falta de disponibilidade para dar atenção aos filhos, os quais, na maior parte das vezes, passam demasiado tempo ligados ao computador ou à televisão.
Muitas famílias estão a terceirizar a educação dos filhos, logo a “delegar” nas escolas secundárias e nas universidades aquele que é para mim o papel primário da formação ética e da educação dos futuros portugueses e que cabe, em primeira análise, à família!
Os professores – pessimamente mal pagos - questionam-se naquilo que devem fazer, sentem-se muitas vezes sozinhos na árdua tarefa de ensinar e, quase como que num grito de desesperança, sentem a necessidade de dizer não, como que um pedido de socorro, um não simbólico, num grito de dignidade que grita a favor dos seus alunos, um grito de alerta de que sem educação de qualidade se rompe com o futuro de Portugal.
Mas, retomando “o fio à meada”, apareceram partidos novos, como Iniciativa Liberal (que realiza este fim-de-semana a sua Convenção Nacional onde irá eleger o novo líder do partido o qual irá substituir o Dr. Cotrim de Figueiredo que, sem razão aparente, se demitiu da liderança do partido) e o Chega (que surpreendentemente, mais até por demérito dos outros partidos, não para de subir nas sondagens de intenção de voto), que quebraram a velha hegemonia do Partido Socialista, Partido Social Democrata, Partido Comunista Português, Bloco de Esquerda e Partido Popular, só para citar aqueles que eram os principais protagonistas há já várias décadas.
Contudo, a abstenção eleitoral (mais votos brancos e nulos) está em níveis preocupantes, tendo atingindo os 48.58% nas últimas eleições legislativas de Janeiro de 2022. Mas, depois são esses que se queixam que “o que eles querem “é tacho””...
Já socialmente, assiste-se tão somente a “protestos de mesa de café ou então de sofá”, tirando (estou-me a repetir) às tradicionais greves instrumentalizadas pelo PCP... perdão pela CGTP-IN na função pública ou nos sectores dos transportes que mais não visam o “quanto pior, melhor”!
Nunca houve em Portugal a tradição para grandes movimentações cívicas, nem os portugueses estão mais envolvidos em movimentos associativos. Excepção feita, quando o país estava sob resgate financeiro, e houve uma intenção do governo do Dr. Passos Coelho de mexer na TSU, que fez com que um protesto pacífico, com cerca de 1M (um milhão) de portugueses, saísse à rua, no dia 15 de setembro de 2012, o que obrigou o então primeiro-ministro a recuar.
Academicamente, este tema parece também não interessar muito. Já que, tradicionalmente, os académicos, entendem estes temas como “menores e mundanos” sobretudo quando respeitam a estimativas sobre os custos impostos à economia portuguesa nos sectores não productivos.
Faz-me lembrar quando certa vez que uma tal Senhora Professora Catedrática da NOVA, sobre a qual tinha recaído a responsabilidade de organizar uma sessão de um Congresso Internacional em Cascais e que a escassas semanas antes da data aprazada para a realização do evento, com centenas de congressistas oriundos de várias Universidades de todo o mundo prestes a chegar ao nosso país, nada tinha tratado, nem sequer ainda havia um local definido para realização da dita conferência. Mas, a Senhora Professora dizia-me toda otimista: “Nada há a recear porque “eles” hão-de organizar tudo. Nós só temos de providenciar o Porto de Honra."
Hoje, volvidos que são 8 (oito) anos, ainda estou a tentar perceber, seguramente por incapacidade minha, a quem é que a Senhora Professora se referia pelo “eles”, se não havia mais ninguém para além de nós, os da equipa dela da NOVA, que trabalhámos que nem uns "mouros" para que a dita da sessão do Congresso se realizasse em Cascais e para que tivesse o sucesso que na realidade veio a obter...
Em conclusão, existem várias teses para explicar esta bonomia. A primeira e porventura a mais famosa é que o povo português é sereno/manso. Poderá ser, mas conviria não esquecer que “essa” do povo de brandos costumes foi uma invenção propagandística do António Ferro, há 80 anos, que serviu às mil maravilhas ao Estado Novo;
Uma outra, será a emigração dos nossos jovens quadros, operada nos últimos anos, que retirou a Portugal uma massa crítica de pensamento e capital humano que permitira mudar a actual dinâmica do estado das coisas. Ao mesmo tempo, a globalização e a europeização desinteressaram dos problemas locais muitos quadros que vivem em Portugal. Também poderia ser, mas a consequência será aprofundar ainda mais o fosso entre as elites políticas e as restantes elites, sejam elas culturais, académicas ou empresariais, com as previsíveis e mui nefastas implicações que isso acarretará no médio prazo.
Uma terceira explicação é a de que os portugueses estão anestesiados pelo futebol, pela ida do Cristiano Ronaldo para a Arábia Saudita e pelos Reality Shows e por outras tantas coisas light e fúteis da autoria da Dona Cristina Ferreira.
Se isto for verdade, então é muitíssimo preocupante, porque é o caminho certo para um qualquer populismo triunfar!
Hoje, Portugal ainda está na periferia dos populismos. Mas a tranquilidade pode ser aparente e enganadora se o sistema político não encontrar soluções no curto espaço. Entretanto vamo-nos distraindo com esta sucessão de escândalos de corrupção e de má gestão dos dinheiros públicos.
Passa nada, o Povo é sereno!